Como não tinha nada a perder, resolvi esperar a noite cair naquela cidade, cujo nome homenageava a tribo indígena dos quapaws, que originalmente habitava o estado de Arkansas. Quapaw surgiu em 1833, quando os índios mudaram-se para o território indígena, no atual estado de Oklahoma.
No entanto, foi fundada oficialmente em 1897, com a corrida pela extração mineral de zinco, carvão e chumbo, como no vizinho Kansas. Na virada do século, o comércio de feno e palha era a atividade mais importante. Depois, a região ficou conhecida por ser ideal para o gado, incrementando-se a pecuária.
Hoje, a localidade tem 1.100 habitantes e é calma mas trabalhadora. Em vários prédios, há incríveis pinturas artísticas nas paredes. Numa oficina, havia um desenho reproduzindo um posto de gasolina antigo. Bati uma foto, impressionado que fiquei com a perfeição do trabalho. Quando voltei para casa, mostrei a foto para muita gente que custou a acreditar que aquilo não era de verdade. Mais adiante, encontrei uma lavanderia que resolveu pintar na parede uma série de fachadas de pequenas lojas. Outra vez, o realismo dos desenhos poderia levar um desavisado a acreditar que aquela era realmente uma cena de Centro de cidade.
Quando a noite caiu, tratei de descobrir onde acontecia a tal da spooklight. Não tive dificuldades. Os nativos são sempre os primeiros a chegar ao local onde o fenômeno supostamente ocorre. O lugar exato era às margens do Spring River, batizado de Devil’s Promenade ou “o passeio do demônio”. Não pude deixar de me sentir um “caça-fantasmas”. Depois de procurar um pouco, consegui uma carona até o Devil’s Promenade. Já pensou pegar carona para o inferno?!
Não tinha muita gente no local, por causa do frio, mas dizem que na alta estação até mil carros chegam a se amontoar naquele espaço para ver a aparição. Fiquei esperando ansioso, embora estivesse duvidando de que algo realmente fosse acontecer. De repente um “oh!” coletivo chamou-me a atenção. E vi, de fato, uma bola de luz girando em torno de si mesma. No começo, pensei que fosse o reflexo dos faróis dos carros. Depois, uma ilusão de óptica. Mas ela continuava ali. Movia-se com rapidez. Parecia realizar passos de dança, para o alto, para baixo. Esfregando bem os olhos, acreditei que estivesse sonhando e que aquilo não passasse de vontade minha de entrar na história de Peter Pan, para encontrar a fada Sininho. Mas não. Era verdade. A bola de luz continuou com o seu balé solitário, diante do olhar estupefato de quem assistia pela primeira vez e dos olhares de admiração dos locais.
Findo o espetáculo, que durou cerca de 15 minutos, comecei a perguntar, a quem quer que encontrasse, o que era aquilo. Ouvi várias explicações tentando dar um sentido para o fenômeno. Uma delas: a luz era o espírito de uma mulher índia que foi decapitada com o marido e os filhos durante uma batalha. A spooklight seria a sua eterna procura pela cabeça. A outra é muito parecida: seria um mineiro decapitado que até hoje estaria procurando a parte do corpo perdida.
Cheguei à conclusão de que é inexplicável. Sobretudo depois que soube que as tentativas feitas por cientistas e técnicos das forças armadas para esclarecer o fenômeno foram todas malsucedidas. A hipótese mais plausível era a de que na verdade a spooklight era uma refração das luzes da estrada que passa perto dali. No entanto, esta teoria começa a ficar meio inconsistente ao se tomar conhecimento do primeiro registro do seu aparecimento: foi vista por índios quapaw em meados do século XIX.
Nesta época, creio, não havia muitos carros por ali e, ainda assim, faróis… Protegida pela falta de teorias convincentes para explicá-la, a bola de luz permanece realizando seu espetáculo, sempre envolta na aura de mistério que pessoas competentes foram incapazes de resolver.
Muita gente ficou ali, no campo, até o sol nascer. Fiquei por lá também, quieto, ruminando a noção de que o ser humano é essencialmente pretensioso. Acha que domina tudo e todos, mas a natureza, de vez em quando, encarrega-se de sinalizar o contrário, apresentando-lhe dilemas insolúveis.
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