No fim da tarde, arranjei um hotel, com os pés estourando de dor. Naquele dia, caminhara muito pela cidade. Perguntei a uma atendente na recepção se ela sabia de alguém que estivesse seguindo viagem para Saint Louis no dia seguinte. Estava no quarto descansando quando bateram na porta. Um homem mais ou menos a minha altura, magro, cabelos grisalhos e bigode apresentou-se como Stanley e explicou que havia me procurado porque fora avisado na recepção de que eu precisava de uma carona.
Foi uma destas coisas que acontecem sem planejamento, mas que ficam na memória para sempre. Assim que confirmei a minha intenção, ele, sem me deixar falar nada, saiu dizendo que voltava já. Pouco depois, entrou trazendo muitas cervejas, frango, salgadinhos, chocolates e sorvete. Enquanto nos fartávamos com aquele piquenique fora de hora, Stanley contou-me um pouco de sua história. Era um desenhista de mão-cheia, pai de sete filhos e morava em Nova Orleans, Louisiana. Viera a Springfield para fazer retratos, caricaturas e charges em um shopping. Como o contrato de quarenta dias havia terminado, estava de partida. E precisava esvaziar a geladeira de tudo o que comprara para se manter.
Mal conseguia acreditar em tanta sorte. No dia seguinte, às seis horas da manhã, Stanley bateu na minha porta com uma roupa toda negra e um casaco verde-escuro, quase da mesma cor da caminhonete.
Pouco mais de uma hora depois, estávamos prontos para pegar a estrada. Ele com destino a Nova Orleans, para voltar a sua casa. Eu, rumo a Saint Louis, para cumprir outra etapa da Route 66, por dentro do estado do Missouri.
Stanley foi uma fonte valiosa de informações sobre a Route 66. Fomos conversando quase o tempo todo, Stanley e eu. O vento — gelado — queimava os lábios. A caminhonete de Stanley era meio antiga e, por isso, o aquecedor não funcionava muito bem. Mesmo assim, a conversa prosseguia animada. Ao longo de uma reta, sem casas nem lojas, mas ladeada por árvores, paramos de falar. O sol tentava vencer a espessa camada de nuvens que havia se formado desde as primeiras horas da manhã.
O mesmo efeito teve sobre mim a gentileza de Stanley. É verdade que era apenas o começo da viagem e eu não estava tão cansado como da outra vez. Ainda assim, tais experiências humanas, o contato direto com pessoas que, mesmo sendo de outro país e com outra cultura, acham espaço para serem gentis, têm um valor inestimável. Em geral, confere-se ao termo “aventura” cores muito fortes.
A bondade com que Stanley me tratou, nossa conversa que versou sobre os mais variados assuntos, foi um contato de valor inestimável. Uma grande aventura, sim. A visão estritamente épica da aventura faz com que desperdicemos preciosas oportunidades de nos relacionarmos com os outros, mesmo no país de origem. Há pessoas que até no trabalho mantêm uma postura distante, tornando o ambiente muito mais formal do que precisaria ser.
Eu e Stanley falávamos disso, quando ele me chamou a atenção para um fato. Já estávamos beirando o rio Mississipi. Vi uma ponte desativada, com um vão bastante acentuado. Era a Chain of Rocks Bridge, que foi aberta para o tráfego em 1927. Meu colega de viagem falou que se quiséssemos passar por fora da cidade de Saint Louis, deveríamos seguir por outra rota. Como não era o caso, fomos em frente, sempre por avenidas margeando o rio. O tempo estava mais quente e resolvi abrir um pouco o vidro.
Stanley deixou-me no albergue. A despedida teve um tom emocional. Afinal de contas, conversáramos bastante durante o caminho. Desejou-me boa sorte e respondi que sorte era ter a chance de encontrar gente como ele.
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