A visão do skyline de Boston, de cima, do avião, teve o efeito de um relâmpago sobre mim. De repente, comecei a lembrar-me de uma discussão de que participei, quando estudava em Harvard, a respeito da rota da história. Há os que defendem a teoria da linha do tempo, que seria uma reta sempre em busca do infinito. Já os pessimistas juram que se trata de um círculo vicioso: as civilizações, como por instinto, seguiriam a mesma ordem, ascensão, apogeu e declínio; ao longo dos séculos, alternariam-se o liberal e o repressor, o rigor e a anarquia, a felicidade e a tristeza.
Mas foi numa tarde fria, naquela mesma cidade em que estava prestes a aterrizar, que ouvi a melhor definição sobre este tema, dada pelo professor que propusera o debate. Segundo ele, a história segue a rotina de uma espiral. Um desavisado poderia achar que os ciclos de prosperidade e decadência, abundância e escassez compreenderiam um simples retorno: sempre se voltaria ao ponto de partida para começar tudo de novo, de igual modo e mecanicamente.
No entanto, se pararmos para analisar melhor, veremos que a história é cíclica sim, mas que, a cada retorno, corresponde um avanço. Assim, também as pessoas às vezes voltam ao seu ponto de partida. Ao recomeçarem, dificilmente repetem os erros anteriores e são capazes de reconstruir a vida com base na experiência acumulada.
Na ocasião em que ouvi esse argumento, achei-o interessante, ainda que muito filosófico. Parecia concordar com ele, mas faltava-me entender como isso se dava de fato. Agora, no momento da chegada, o quebra-cabeça se completava.
Boston foi antes e seria agora um ponto de partida. Dali eu saíra há quase três anos cheio de planos. Fora ali que eu planejara a minha primeira aventura. E ali eu conseguira encontrar força de vontade, coragem e motivação para realizar um sonho. E lá estava eu de novo. Milhares e milhares de quilômetros depois, no tempo e no espaço. Pronto para pôr em prática mais um sonho. Voltava para onde tudo começara. Mas o Sérgio que retornava então a Boston era bem diferente daquele que a deixara. A vontade de vencer etapas era a mesma, só que com muito mais experiência vivida. Senti o impacto do trem de aterrizagem.
Pode parecer estranho, mas, enquanto seguia os procedimentos rotineiros do desembarque — pegar as malas, ir para a imigração, carimbar o passaporte, passar pela alfândega… —, minha cabeça rodava. Fazia tudo isso como se estivesse na minha terra natal. A cidade que assistiu à Declaração de Independência dos Estados Unidos é a mesma onde eu declarei minha própria independência.
A rota em espiral desta história ia de Ribeirão Preto para São Paulo, dali para Boston, em seguida Europa, São Paulo e novamente Boston. A capital de Massachusetts fora a minha ponte para o mundo. Agora, decidira-me a fazer dela um trampolim. Iria iniciar o mergulho num novo sonho, mas desta vez dentro dos Estados Unidos da América. Podem me chamar de sentimental: foi exatamente por isso que eu quis começar a partir de Boston. Queria rever amigos, lugares e recordar momentos importantes para mim. Isso, sem dúvida, iria me ajudar a reunir forças para realizar a minha iminente aventura.
Percorrer a Route 66 era um desafio, mas não foi uma idéia que nasceu da noite para o dia. Antes de desembarcar em Boston, obtendo informações mais concretas sobre esta estrada, tive contato com ecos de sua fama internacional. Minha mãe contou-me a respeito de um seriado de TV que a tinha como cenário principal. Diversas músicas, sobretudo no estilo on the road dos anos 50 e 60, citam a estrada.
Uma das que se tornaram mais famosas foi Get Your Kicks on Route 66, de Bobby Troup, gravada por mais de quarenta intérpretes, entre eles Nat King Cole, Paul Anka, Bob Dylan, Chuck Berry, Van Morrison, Depeche Mode, Rolling Stones, Natalie Cole, Sammy Davis Jr., Earthquake e pelo próprio autor.
Também já tinha ouvido falar do quanto ela foi importante para o desenvolvimento dos EUA. Mas as informações genéricas eram insuficientes para explicar o fascínio que exerceu e ainda exerce. Suponho que seja caso único no mundo moderno uma estrada local ser conhecida em tantos países. Fenômeno semelhante talvez só o da Via Appia, em Roma, principal via de acesso do Império Romano. Mas quanto tempo tem-se de voltar para encontrar um paralelo!
Pode parecer exagero, mas uma das primeiras coisas que aprendi é que, ao viajar, não importa para onde, convém estar sempre bem informado a respeito do lugar de destino. Isso, além de dar mais segurança, ajuda a economizar. É na certa mais proveitoso saber de antemão os locais por que se vai passar, o que eles significam e qual a distância entre eles.
É possível ser mochileiro, pegar carona, dormir do jeito que der no meio do caminho e ainda assim ser organizado. Pelo menos um mês antes de tomar o avião para os EUA, levantei todo o percurso da Route 66, the old road, como a chamam os americanos. A ideia era vencer seus 3.917km utilizando todos os meios de transporte disponíveis, no prazo de 66 dias. E não teria graça ser de outra forma. Afinal, esta serpente de asfalto arrasta-se desde as redondezas do lago Michigan, em Illinois, até o Pacífico, na Costa Oeste do país. Entre estes dois extremos, a Route atravessa rios, planícies, montanhas, desertos e canyons de oito estados, 102 cidades e diversas nações dos americanos nativos, os índios.
Agora, ali, no aeroporto Logan, de Boston, pensava que precisava aproveitar ao máximo a primeira e única vez em que eu saberia ao certo onde iria dormir. Do lado de fora da Alfândega, encontrei meu amigo Amaro, que fora me esperar. Eu iria ficar hospedado na casa em que ele mora.
Seria ótimo ter um pouco de sossego para me recuperar da maratona da viagem aérea, principalmente por causa do fuso horário. Por menor que seja a diferença, a pessoa sempre fica meio confusa. Ainda no aeroporto, ouvi alguns brasileiros falando alto, naquela algazarra típica de marinheiro de primeira viagem.
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