O pueblo de Tesuque chamou-me especialmente a atenção e, por isso, tratarei dele em separado. Dentre os que visitei, foi nele que realmente me detive, não sei ao certo por quê. Nos guias, todos eram elogiados, tanto pela qualidade das peças de artesanato quanto pelos aspectos culturais. Como não tinha tempo suficiente para visitar um a um detalhadamente, resolvi escolher Tesuque para fazer uma espécie de imersão na cultura dos autênticos pioneiros do continente americano. Não sabia eu que esta escolha, aparentemente aleatória, tinha um sentido, que seria uma dessas coisas inexplicáveis que acontecem na vida e marcam para sempre.
Estava entrando num pueblo onde a palavra “tradição” não era um termo vazio de significado e cuja importância reside em ter sido um dos primeiros a fazer contato com os espanhóis. Os habitantes de Te-Tsu-Gek (Tesuque) fabricam vasos de cerâmica e esculturas de boa qualidade, e têm plena consciência do papel que desempenharam durante a Revolta dos Pueblos, em 1680.
Em 10 de agosto, os escritórios e o comércio locais fecham, em homenagem ao primeiro ataque deflagrado na reação ao poder opressor dos religiosos europeus. No entanto, embora arraigados a seu passado de glória, não perdem o contato com a realidade e estão desenvolvendo uma produção agrícola totalmente sem agrotóxicos, associada a técnicas históricas de cultivo, para subsistência e comercialização no Centro de Santa Fé. Confirmando sua sintonia com o presente, os moradores de Tesuque permitem que os trailers acampem numa área delimitada, autorizam os visitantes a nadarem no lago próximo e ainda incentivam-nos a tentar a sorte no Bingo Tesuque, com o que obtêm alguma renda extra.
Confesso que ao chegar lá, fiquei surpreso com tamanha “modernidade”. Não esperava ver índios de jeans e crianças com walkiemans. Mas percebi depois como as coisas funcionam. Eles fazem algumas concessões ao que nós chamamos de moderno. No entanto, no que se refere aos costumes, à religiosidade e à espiritualidade, o respeito à tradição é total. Assim, nem todos os lugares são acessíveis aos turistas. Os locais considerados sagrados permanecem intactos e são proibidos aos que vêm de fora. A princípio, eles aproximam-se um pouco desconfiados, pois muitos visitantes tendem a esquecer que os índios não estão num aquário para serem observados.
Estão na casa deles e se não quiserem ser “observados”, têm esse direito. Após algum tempo admirando a aldeia, caminhei em direção a algumas crianças, que sorriram. Retribuí, e logo havia um pequeno grupo de turistas ao nosso redor. De repente, chegou um homem alto e forte, que se identificou como o chefe espiritual do pueblo. Mesmo antes de saber de quem se tratava, ficara impressionado com a altivez e a autoridade que impôs simplesmente com a sua presença. Não se via nos olhos das crianças o medo, como o que se tem de um preceptor severo. Nos olhos delas, havia um brilho de admiração e confiança, típico de quem está diante de um líder verdadeiro. Aquela impressão foi tão forte, que não entendi quando me disse seu nome, pouco comum.
Pode até parecer uma experiência corriqueira, mas naquele momento tive a noção perfeita da diferença. Ainda que tenha se permitido alguns avanços, a sociedade dos pueblos, particularmente aquela, prezava sobretudo o “sentir”. Noções como sagrado, alma e medo estão presentes e desempenham papel ativo no cotidiano deles. Ao longo dos séculos, a nossa busca desenfreada por uma “modernidade” vem, cada vez mais, nos distanciando do sentir. Com a sensibilidade embotada, só conseguimos acreditar naquilo que podemos “tocar”, no que é palpável, naquilo que podemos enxergar. Muitos de nós só gostamos da nossa imagem, aquela refletida nos espelhos, sem ter noção de que a alma fala por outros canais.
Quando saí dali, sentia-me com força suficiente para competir com Andy Peyne no Bunion Derby e atravessar os EUA a pé. Estava renovado, feliz. A gente às vezes passa tanto tempo mergulhado nas coisas do mundo dito moderno que negligencia o que não faz parte da realidade visível. Não resisti e chorei, de saudade das pessoas que não via há tempos, mas também de felicidade. E feliz eu fui dormir.
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