Decidi conhecer o povo de perto, por isso utilizamos em nosso primeiro dia o sistema de transporte urbano da cidade do Cairo.
Foi o ônibus mais lotado e tumultuado em que entrei em toda a minha vida. Pegamos no ponto inicial. Assim que o cobrador abriu a porta foi uma confusão. Homens atropelando mulheres, que passavam por cima de idosos, que empurravam crianças, que puxavam galinhas e outros bichinhos de estimação por uma cordinha. Achamos que não ia dar para entrar.
Não havia lugar para colocar o pé no assoalho do ônibus e as pessoas começaram a se acomodar umas sobre os pés das outras. Fomos os últimos a entrar. Todos acomodados, podíamos partir. E o motorista? Praticamente não havia lugar para ele. O homem empurrou um, pisou em cima de dois e conseguiu chegar a seu posto.
Estava mais convenientemente trajado para guiar um camelo que uma máquina com cavalos no motor. Tinha turbante, óculos escuros, calça bufante. Um verdadeiro beduíno. O ônibus estava tão cheio que mal conseguia sair do lugar. Ainda bem, pois eu estava com a cara prensada no vidro da frente e qualquer sacolejo mais brusco poderia espremer minha cabeça.
Não conseguia ver onde estava Leonardo. Muito menos minha carteira. “Léo, se você conseguir alcançar minha carteira no bolso de trás da calça, pegue e guarde com você”, falei em português. Ele mal conseguia ouvir, quanto mais alcançar meu bolso. Deixei a sorte de meu dinheiro nas mãos de Alá.
A viagem durou cerca de 50 longos minutos. O motorista era doidão. Como ganhar velocidade era difícil, ele preferia não perdê-la. Nos pontos, só reduzia a marcha, sem parar, o que obrigava os passageiros a saltarem do ônibus. Foi o que fizemos, quando chegamos ao ponto indicado pelo cobrador.
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