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A passagem pelos Estados Unidos havia sido muito proveitosa. Tanto assim que agora eu estava fazendo uma viagem com objetivos muito mais ambiciosos do que os que eu tinha quando fui para a América do Norte. Era um outro tipo de ambição — mais madura, por sinal.
Eu estava embarcando para a Europa para conhecer novas culturas, novos cenários, gente nova. Queria me colocar à prova, ganhar experiência e crescer. Pretendia ficar sozinho comigo mesmo, naquela solidão que todos nós precisamos para saber melhor o que queremos.
Quando saí do Brasil com destino a Miami, minha primeira parada em solo americano, meus horizontes eram mais limitados. O principal motivo dessa viagem foi estudar em Harvard, para complementar meus conhecimentos em Administração de Empresas e Propaganda e Marketing, os dois cursos superiores que eu tinha começado no Brasil.
A estadia nos Estados Unidos tinha sido um sucesso porque me saí bem nos dois cursos que fiz em Harvard. O primeiro, sobre língua inglesa, durou quatro meses. O segundo curso foi sobre Gerenciamento de Marketing, com seis meses e um programa amplo a ponto de ser útil em minha viagem.
Frequentei um seminário sobre como economizar tempo e dinheiro, que foi fundamental na preparação da viagem. Para completar, freqüentei a Northeasthern University por quatro meses, estudando gerenciamento de negócios, gerenciamento administrativo e — certamente o mais precioso para o sucesso de minha aventura — comunicação humana.
Do ponto de vista profissional, os doze meses que passei nos Estados Unidos também foram satisfatórios. Eu não tinha do que reclamar. Meus empregos de instrutor de futebol, lavador de pratos, ajudante de garçom, cozinheiro e barman me permitiram juntar dinheiro suficiente para me entregar ao prazer de uma grande viagem.
Naquele dia, no aeroporto, eu tinha no bolso um cartão de crédito internacional e cerca de 5 000 dólares em verdinhas. Isso sem falar nas centenas de dólares que gastei mandando a bagagem excedente para o Brasil.
Lembrei da noite em que tive o estalo de viajar. Eu lavava pratos no Paparazzi, restaurante frequentado pela classe alta de Boston, inclusive a família Kennedy. A esponja girava ágil sobre aquele círculo de porcelana — o mundo — e eu comecei a delirar pensando no Velho Continente. Cada pequeno risco no prato era um caminho. Havia caminhos para todos os lados e era só olhar para o prato para me ver andando por eles.
Isso aconteceu três meses antes do dia do embarque. Dali em diante, não tive cabeça para outra coisa. Eu economizava cada cent. Se cada prato que lavei naquele período boiasse, teria dado para cruzar o oceano apenas pisando neles. Para mim, não existiam horas vagas. Nos últimos dois meses, trabalhei 87 horas por semana para juntar dinheiro para a viagem. Eu acordava e já ia trabalhar. Saía do trabalho com roupas de garçom e ia direto para meu curso na Harvard University e dali para a biblioteca.
Ficava horas pesquisando tudo que se referisse ao universo no qual estava prestes a mergulhar: costumes, paisagens, dados econômicos, horários de trem, pontos turísticos, roteiros de viagem e até teses e teorias sobre o poder da mente e da autoconfiança. Megatendências? O cansaço daqueles dias criava uma atmosfera de sonho. Eu viajava sentado naquela cadeira dura de madeira até que a bibliotecária viesse me perturbar.
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