Quando estava em Intipunku, observando do alto Machu Picchu, a cidade sagrada dos incas, tive a resposta para o que me intrigara ao longo de todos os dias que passara no Peru. Qual foi essa resposta? Isso você compreenderá após a leitura destas páginas escritas com o despojamento e a simplicidade que passaram a fazer parte da minha vida.
E por que fui para lá? No começo, acreditava que apenas por um desses loucos e saudáveis impulsos que às vezes tomam a gente de um momento para o outro, sem muitas explicações. Portanto, foi só juntar os trocados e partir. Depois, fui aos poucos percebendo que não era bem assim: havia um objetivo determinado traçando as linhas do meu caminho.
Assim, entre surpreso comigo mesmo e assustado com o ambiente ao redor, vi-me no famoso Trem da Morte, num sábado à noite, indo de Puerto Suárez a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. Estava sozinho, sem o passaporte, com dois traficantes sentados à minha frente e algumas prostitutas ao meu lado. Era uma realidade imprevisível. Naquele momento pensei: “Por que não fiquei em São Paulo?” As primeiras horas de viagem provaram a dificuldade que enfrentaria para completar aquela aventura. Mal sabia eu que começava a viver os dias mais emocionantes da minha história.
Em cada cidade ou povoado por que passava via comunidades pobres. Gente sem dinheiro, sem orgulho, ressentindo-se até hoje com a perda de uma civilização avançada e que deixou marcas profundas na sua cultura, apesar da sangrenta e irracional destruição imposta pelos colonizadores espanhóis.
Os incas e seus antecessores não dominavam a escrita, nem conheciam a pólvora ou o cavalo. Eram, no entanto, brilhantes em tudo o que faziam. Gênios da engenharia, astronomia e metalurgia, fizeram grandes e instigantes descobertas. Fiquei fascinado com os aquedutos, os relógios de sol e os calendários lunares.
Além disso, por questão de subsistência, desenvolveram técnicas agrícolas criativas e inteligentes. As terraças, locais onde faziam plantações, eram centros de agronomia. As cidades, construídas com tecnologia antiabalo sísmico, utilizavam a pedra angular como encaixes perfeitos em construções que resistem altivas à ação do tempo e à força da natureza. Na metalurgia, que dominavam, aprenderam a lidar com o estanho séculos antes dos europeus.
Conhecer o habitat dos incas provocou mudanças profundas em mim, sobretudo quando compreendi a filosofia de vida e a religião daquele povo. Sua diretriz encerrava-se numa trindade: a serpente, o puma e o condor, que representavam respectivamente o subsolo, a terra e o céu. Acreditavam que as pedras podiam chorar, que a água fecundava a terra e que o raio era a comunicação do cosmos com o nosso plano.
Tinham com a natureza uma relação harmônica, de igual para igual, mas ao mesmo tempo afetiva e respeitosa. E, assim, conseguiam percebê-la em toda a sua magnitude. Com os incas, eu, antes pragmático habitante da metrópole, consegui aprender a enxergar, pela primeira vez, Deus na natureza.
Quando saí do Brasil, pensava em colher material de pesquisa para escrever um livro restrito à história incaica e aos aspectos essencialmente turísticos do trajeto pela Bolívia e pelo Peru. Mas, não foi o que aconteceu. Ainda que tenha procurado não abandonar de todo as intenções do projeto inicial, pois isso não faria sentido, compreendi que meu relato teria que ultrapassar os limites antes fixados.
Isso porque tornou-se imperativo para mim passar adiante também a experiência pessoal mística e mágica que vivi, no sofrido, mas gratificante, aprendizado em que os incas me serviram de mestres. Nos quarenta dias em que viajei através daqueles dois países, senti o despertar de algo maior. O principal passou a ser a busca de minha espiritualidade, deixando de lado o excesso de pragmatismo para entender e valorizar as coisas simples da vida.
A trilha inca é uma verdadeira prova de força de vontade para qualquer um. Para chegar a Machu Picchu ou “Pico Alto”, é preciso subir e descer cinqüenta quilômetros de montanhas, atravessar florestas e andar, andar muito! Não é fácil, sobretudo por causa da altitude. Às vezes, dá vontade de desistir, mas quem persiste recebe um verdadeiro prêmio. Machu Picchu é inexplicável. A energia que senti caminhando por entre aquelas ruínas ainda imponentes, mesmo que castigadas pela ação do tempo, é indescritível.
Portanto, não poderia deixar de pelo menos tentar dividir essa experiência maravilhosa com o leitor. Voltei diferente. Aprendi a insistir nos meus objetivos. Desenvolvi a habilidade de perceber o mundo e as pessoas de forma sensível, madura. Contra todos e contra a minha lógica lancei-me numa aventura maior, a da minha espiritualidade. E, nesse caminho, cheguei até a me envolver na estranha história do segredo guardado há séculos pelos incas e seus sucessores: o tesouro perdido de Atahualpa, que ainda não foi revelado ao mundo.
Li num jornal de São Paulo que os pesquisadores descobriram uma nova rota para Machu Picchu, que diminui a jornada em um dia. Fiquei feliz e pensei que também na vida devemos sempre procurar a melhor maneira de trilhar os caminhos, sem desistir. Para isso, temos que manter a sensibilidade apurada, a fim de saber identificar os chamados que surgem ao longo da caminhada. Quem persiste chega a seu Machu Picchu.
E só quem vê os raios de sol sobre a cidade sagrada pode entender que ali está o ponto mais próximo da felicidade, o encontro definitivo com nós mesmos.
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