Hiram Bingham nasceu em Honolulu em 19 de novembro de 1875, e foi senador e governador do estado americano de Connecticut em 1924. Era político, alpinista, aviador e viajante destemido. Tinha gosto pela aventura. Em 1905, percorreu a trilha de Simon Bolívar, o grande libertador da América espanhola; foram cento e dezoito dias no lombo de uma mula, atravessando os Andes da Colômbia e da Venezuela pela velha rota comercial usada pelos espanhóis para chegar a Lima.
Em 1908, descobriu a terra dos incas. O prefeito de Apumirac, dom Nuñez, propôs explorarem juntos a região incaica, a mais abrupta da cordilheira. A promessa dele a Bingham era de encontrar uma cidade surpreendente cujo nome bastava para criar expectativas: Choquequirau, ou berço de ouro, supostamente o refúgio do último imperador inca.
Bingham não desistiu de continuar explorando a região incaica. Outra expedição partiu de Cusco a 11 de junho de 1911. Dessa vez, com o apoio da Universidade de Yale e da National Geographic Society. As duas instituições patrocinariam ainda outras duas viagens, em 1912 e 1915.
Havia uma dificuldade técnica muito grande. Os mapas traçados entre 1535 e 1572 eram ruins, pouco informativos, e os caminhos eram tão hostis que espantavam a maioria dos aventureiros. Talvez por isso quase nada tenha sido descoberto sobre a vida dos incas durante a colonização espanhola. Apenas um mapa, feito pelo naturalista Antonio Raimondi, retrata a região da cordilheira de Vilcabamba, inóspita até hoje mesmo para os habitantes de Cusco.
De qualquer forma, Bingham seguiu o caminho feito por Manco Inca em 1536. Ele procurava a cidade de Viticos. A única referência que merecia a confiança do americano era: Havia uma grande pedra branca sobre uma fonte de água fresca.
Hiram Bingham estava no topo de uma montanha onde, para seu desespero, havia apenas uma choupana. Achou que estava no fim do mundo.
Moravam ali Anacleto Álvarez Meza, há oito anos, e Toribio Richarte, a quatro, com suas famílias. O primeiro tinha três filhos. O outro tinha um rapazinho de doze anos. Gente muito pobre, eles escolheram aquela região para não ter que pagar impostos. Viviam de plantar batata, pimenta vermelha e trigo. O panorama era bonito, a vida calma.
Uma das mulheres ofereceu a Bingham um prato de batata-doce. Ele sentou-se e perguntou-lhe: “Onde fica a casa dos incas?” Ela sorriu e nada disse. O americano estava desiludido. Onde, afinal, se escondia aquela cidade? Quase pronto a desistir, a única coisa que o impedia de dar a ordem de retorno era que aquele lugar lhe parecia ideal para um esconderijo, talvez perdido no meio das pedras e dos campos hostis pelos quais acabamos de passar. Mas, assim que ele se levantou, já então decidido a voltar para Cusco, o filho de Toribio, sorrindo, pegou-lhe na mão e disse: “Eu sei onde fica a casa dos incas.” Recebeu um sole por isso.
O último fio de esperança foi agarrado com fervor pelo explorador. Bem perto de onde estavam, atrás de uma montanha, uma visão assombrou o americano: um conjunto de terraças, de jardins suspensos, parecido com o de Ollantaytambo. Ficou em êxtase absoluto, fascinado com as paredes bem talhadas das casas, as dezenas de edifícios, os templos, os palácios. Com os olhos marejados, exclamou: “Encontrei! Encontrei a cidade perdida dos incas!”
Durante anos, os moradores da região negaram-se a falar com estranhos sobre a cidade-esconderijo. Um menino quebrou o silêncio, mas nunca foi encontrado. Dezenas de pesquisadores saíram em busca de seu paradeiro, para saber quem era. Um informante afirmou que seu nome era Mamani, o mais comum no Vale Sagrado. Só que nada foi provado.
A expedição trouxe de Machu Picchu vasos, armas incas, tecidos, ornamentos e 12 mil fotografias. A imprensa mundial da época, informada do resultado da incursão de Bingham, festejou o feito: É o acontecimento mais transcendente do Novo Mundo desde a odisséia de Cristóvão Colombo.
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