— Quero lhe mostrar algo impressionante. Venha — determinou.
Ele foi na frente e segui-o, obediente. Depois de passarmos pela porta da Humildade, trocou algumas palavras com um padre grego ortodoxo e voltou animado:
— Consegui a permissão e estou com a chave. Vamos!
Viramos à direita rumo à gruta do Leite, transpusemos uma porta, andamos uns poucos metros e dobramos à direita novamente, até um portão de ferro do qual Mohamed tinha a chave. Enquanto o abria, disse:
— Não vá se assustar, está bem?
Não entendi por que dissera aquilo. Estávamos na basílica da Natividade. Descemos por uma escada de pedra e fomos a um lugar que não visitara. Viramos à direita outra vez. Ele apontou para uma espécie de janela aberta na rocha e, logo em seguida, para uma pedra:
— Pode subir nela que não tem problema.
A essa altura, eu me mordia de curiosidade, na expectativa de ver alguma relíquia secreta de um santo ou uma representação de passagem bíblica esculpida por um dos apóstolos. No entanto, quando meus olhos se fixaram na escuridão e compreendi o que estava vendo, quase não acreditei. Ali, escondida, havia uma câmara mortuária, repleta de ossos humanos.
— Meu Deus, o que é isso?
— São crânios e ossos de milhares de bebês. Foi aqui que Herodes deixou os corpos de duas mil crianças que mandou executar em Belém…
— …quando perseguia o Messias — completei.
— Isso mesmo.
— Não foi por acaso que sempre achei esta uma das passagens bíblicas mais fortes. É terrível!
Senti calafrios. Milhares de crânios e ossos de bebês desfilavam diante de mim, sem trégua. Não havia medida para a dor que me invadiu. O holocausto infantil se materializava bem à minha frente, como prova inconteste de a quanto pode chegar a insanidade e a ambição humanas, em sua sede de poder. Lá dentro, ainda, um quadro retratava a época do acontecimento cruel.
Desci da pedra e andei um pouco, até me deparar com uma pintura da perseguição de Herodes. Subi em outra rocha e vi mais ossos. Era comovente pensar que se tratava de vidas inocentes tão prematuramente ceifadas à força por um ditador implacável. Durante longo tempo, fiquei refletindo sobre o que acabara de presenciar.
Quando Herodes ouviu do nascimento de Jesus, temeu que sua soberania fosse ameaçada, ordenando então a matança de todas as crianças do sexo masculino com menos de dois anos, em Belém. No entanto, Deus enviou um anjo para alertar o pai do menino, orientando-o quanto ao que fazer: “E quando eles partiram, eis que aparece um anjo do Senhor a José, em sonho e diz: ‘Levanta, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que eu te avise: porque Herodes há de procurar o menino para o matar.’ Levantando-se, tomou de noite o menino e sua mãe, e partiu para o Egito” (Mateus 2:13-14).
Naquele momento, meus sentimentos assemelhavam-se à emoção de um arqueólogo ao se defrontar com uma peça ou uma construção que comprove as suposições dele. Mais uma vez não pude deixar de reconhecer que o meu amigo de Belém estava de novo me ajudando a “viver” a Bíblia, o que me servia para atestar a exatidão dos relatos nela contidos.
Como me detivera antes naquela passagem bíblica, sentia-me confortável para falar sobre Herodes, que morreu aos setenta anos de idade. Flávio Josefo julgou-o com grande severidade quando escreveu sobre ele alguns decênios depois: “Não era um rei e sim o tirano mais cruel que já conseguiu reinar. Assassinou uma multidão de homens e a sorte dos que deixou com vida era tão triste, que aquele que morreram poderiam se considerar felizes. Martirizou seus súditos e malbaratou toda a Fazenda pública. Para embelezar cidades estrangeiras, saqueava as próprias e presenteava outros povos com o sangue dos judeus. Em conseqüência disso, em vez do antigo bem-estar e dos bons costumes tradicionais, veio o empobrecimento total e a completa desmoralização do povo. Em suma, nos anos do reinado de Herodes, os judeus sofreram mais tribulações do que seus antepassados no longo período de tempo entre a saída da Babilônia e o regresso sob o domínio do rei persa Xerxes.”
Em 36 anos de (des)governo, quase não se passou um dia sem execuções. Herodes não poupava ninguém, nem a sua família, nem os amigos íntimos, nem os sacerdotes, nem o povo. Em sua lista de assassinatos, contam-se dois maridos de sua irmã, Salomé, a esposa Mariana, e os filhos Alexandre e Aristóbolo. Mandou afogar o cunhado no Jordão e eliminar a sogra Alexandra. Dois sábios, que arrancaram a águia dourada romana da porta do templo, foram queimados vivos. Hircano, o último da tribo dos hasmoneus, foi morto. Extirpou radicalmente famílias nobres e afastou muitos fariseus do seu caminho.
Cinco dias antes de falecer, já velho, mandou matar o filho Antipater. E isto é apenas uma fração das atrocidades cometidas por aquele que “como soberano foi um animal feroz”. Considerando-se o caráter horrendo desse homem, é perfeitamente razoável atribuir-lhe a degolação dos inocentes em Belém, de que a Bíblia o acusa.
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